segunda-feira, 6 de maio de 2013

A palavra do leitor: Professor Edir Augusto



Gostaria de manifestar uma opinião política. Não sei se nesses tempos em que vivemos é de direito e bom tom manifestar uma tal opinião. Ou se ao manifestarmos não corremos o risco de destruir uma ideia, quem sabe, até uma possibilidade de uma ideia nova. No entanto, muitas vezes, é preciso arriscar o passo da opinião direcionada para um problema. De que problema se ocupa esta opinião? Do recente caso de corrupção envolvendo alguns agentes a frente da administração da prefeitura municipal de Mocajuba.





Como são por demais sabido do público os fatos não me aterei a eles. Cabe apenas à justiça julgar sua veracidade, identificar e punir – oxalá – os culpados e cúmplices. O roubo, desvio e mau uso do direito público no Brasil – a chamada corrupção – tornou-se fato endêmico da política. Em toda parte, em todo lugar, em todos os níveis do governo, sozinhos ou em grupos, os que assumem cargos públicos – por eleição ou indicação – envolvem-se em práticas de corrupção ativa ou passiva em sua maioria. São raros os que se salvam, e, apesar das divulgações públicas maiores nas últimas décadas, são poucos os fatos de corrupção que vem a conhecimento do público e da justiça, uma pequena fração destes apenas são denunciados, menos ainda os investigados e quase nenhum é devidamente punido. A impunidade nos crimes de corrupção é quase total. 







Em Mocajuba esses casos sabidos vieram a tona com prisões de pessoas. E provocaram comoções e indignações de uma parte e de outra. Evidentemente que ninguém ousa defender que o desvio fraudulento do dinheiro público é uma prática aceitável. Ainda que participe direta ou indiretamente dessas práticas. Mas, mesmo assim, ver seus conterrâneos, amigos, conhecidos e parentes presos não agrada ninguém, e pode mesmo criar um sentimento de revolta e injustiça, dado que de antemão, até que se prove o contrário, todos são inocentes. E, por isso, um discurso moralista e oportunista se ínsua para ganhar crédito entre os vitimados. Isso vimos tanto de um lado quanto de outro.









Mas, o que está em jogo neste caso? O que está gritando por trás dos fatos? O que os fatos nos dizem? Nos dizem que o governo do município há muito tempo vem de mal a pior. Que os grupos que tem se revezado nos últimos anos no controle do poder público municipal vem praticando espoliação aberta ou velada, em maior ou menor grau, dos bens públicos, dos recursos e patrimônio públicos do município. E mais ainda: que a população, de um modo geral, tem assistido a esse processo de espoliação sem fazer nada, sem ao menos manifestar alguma indignação. 








Não vou cair no lugar comum dizendo que cada população tem o governo que merece. A recente reeleição do atual prefeito – de quem digno a não pronunciar o nome – exprime bem o momento histórico que na política municipal vivemos: falta de alternativas políticas e apatia da população. Diante, por exemplo, do que o Sr. Wilde Colares “fez” como prefeito, as “obras” do governo do atual prefeito são insignificantes – não que queira fazer algum elogio ao Wilde, cujos governos deixaram boas e más heranças para o município -, mesmo assim não conseguiu se reeleger. Por que? Penso que o contexto anterior era muito diferente. Havia frações da Oligarquia local que não foram beneficiadas pelo governo do Wilde e veio para disputar com este com alguma força política e econômica. Além de que havia uma maior articulação das classes populares em torno de tentativas de construir alternativas políticas, pelo menos em termos de lideranças locais. 









Não estamos, assim, diante de um caso isolado de corrupção. Nem estamos num momento em que estes fatos, vindo a público, são capazes de mobilizar as massas populares. Ainda que suscitem nestas sentimentos de rejeição. O que mais surpreende é a falta de análise política daqueles partidos e grupos sociais que tem o dever de politizar a sociedade, de intervir nos espaços públicos. Na verdade não há surpresa nenhuma uma vez que todos, de um modo ou de outro, deixaram se cooptar pelo atual prefeito. Digo cooptar para não dizer o pior. Capitular, talvez, seja um melhor eufemismo para este caso. 











Felizmente temos uma situação mais complicada do que os mantenedores da ordem desejam. O poder público municipal como um todo não pode deixar de ser responsabilizado, senão criminalmente, pelo menos MORALMENTE por toda essa sujeira revelada no trato da coisa pública em Mocajuba. Isentar-se dessa responsabilidade constitui assumir a culpa em todo caso. Mesmo aqueles honestos cidadãos e funcionários envolvidos que estão inocentes nesse caso, não podem deixar de está implicados, não podem se desculpar de nenhuma maneira. 









Que se puna quem deve ser de fato punido! Mas que a população tenha a capacidade de avaliar a situação pelas suas implicações globais gravíssimas: um montante significativo do dinheiro público foi criminosamente desviado! Não há como aceitar tal coisa! Não há como assistir tal abuso de autoridade e boa vontade do povo sem fazer nada! E que faremos nós? E o que têm feito nossos representantes? Discursos! PALAVRAS NÃO SAÚDAM DÍVIDAS! PRECISAMOS EXIGIR REPARAÇÕES CONCRETAS E IMEDIATAS!


Prof. Edir.
Mocajubense.
É geógrafo. 
Professor na UFPA


Um comentário:

Anônimo disse...

HUUUUM GEÓGRAFO

"Veja bem, meu amigo, a consciência é um orgão vital e não um acessório, como as amígdalas e as adenóides."(Martin Amis)

Leitores do Amazônidas por ai...


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