terça-feira, 11 de novembro de 2014

O apanhador de desperdícios


Uso a palavra para compor meus silêncios.

Não gosto das palavras
fatigadas de informar.


Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.


Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.


Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.



Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.


Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.



Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.


Só uso a palavra para compor meus silêncios.

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"Veja bem, meu amigo, a consciência é um orgão vital e não um acessório, como as amígdalas e as adenóides."(Martin Amis)

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