quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Engenhos do Baixo Tocantins são retratados em livro :)

Geógrafa, jornalista e escritora, Graça Lobato Garcia lança no próximo dia 16 o livro "Memória dos Engenhos do Baixo Tocantins" que, segundo a autora, é um legado de informações históricas e socioambientais do ciclo da cana-de-açúcar naquela região. Na obra, Graça revive também suas raízes, já que nasceu e viveu a primeira infância em um engenho no município de Igarapé-Miri

Alegre

Por Iva Muniz

Fotos: GQ Estúdio

Troppo - Como se deu a pesquisa para composição do livro

Graça - Recorri à intensa pesquisa bibliográfica de matérias escritas por estudiosos brasileiros e de outras nacionalidades. Contei com informações de pessoas que vivenciaram ou foram protagonistas daquele ciclo; coletei fotos, pinturas, recorri à internet e fiz diversas incursões in loco. Juntei as histórias dos engenhos de Igarapé-Miri que o papai havia escrito e definimos o roteiro do livro. O tempo de pesquisa e execução da obra durou em torno de dois anos.

Troppo - Quem são os principais personagens do livro?

Graça - Os senhores de engenhos ou engenhista (proprietário do engenho que mói e transforma a cana-de-açúcar em açúcar ou cachaça), o caboclo ribeirinho (que labutavam tanto nos canaviais como na produção aguardenteira), os canavialistas (proprietários de roçados onde eram plantadas a cana), o regateiro (pessoas que, em pequenas embarcações, comercializavam a aguardente com os ribeirinhos, trocando-a por peixe salgado etc.) e o extrativista (que recolhiam as sementes oleaginosas nos igarapés e as trocavam com os regateiros).

Troppo - Qual o perfil sócio-econômico dos trabalhadores do engenho?

Graça - Nos engenhos vigorava o sistema patriarcal, onde se designava por família a totalidade dos indivíduos tutelados pelo proprietário, ou seja, na grande maioria a mão de obra utilizada tanto nos engenhos como nos roçados era constituída de agregados que viviam na dependência dos engenheiros ou canavialistas, tendo estes normalmente como compadres. Desfrutavam da assistência necessária pelo patrão. Seus pagamentos eram efetuados através do fornecimento da farinha para ser consumida com o peixe que pescavam; os vestuários e até os remédios quando os unguentos não resolviam. Não possuíam salário nem carteira assinada, era utilizado o sistema de aviamento. Ao lado da casa grande ficava o comércio, com as mercadorias fornecidas aos empregados e devidamente anotadas em uma caderneta.

Troppo - De que forma o Pará foi beneficiado com esses engenhos?

Graça - No rastro dos engenhos de açúcar e aguardente vieram uma série de atividades produtivas como fábricas de refrigerantes, vinagre, torrefação de café, olarias e serrarias. Podemos dizer que o sistema econômico foi tão benéfico para o estado do Pará, que alguns dos grandes supermercadistas de nosso estado, iniciaram suas atividades labutando em engenhos e no sistema de venda por regatões.

Troppo - Em que momento esse comércio viveu o ápice?

Graça - O auge do desenvolvimento agroindustrial tradicional aconteceu por volta de 1960 a 1975. Neste período ocorreu um grande aumento no número de engenhos que passaram a operar com maquinários importados da Alemanha e Inglaterra, cresceu a população e para atender a demanda de produtos, foram adquiridas embarcações modernas movidas a diesel que sagravam os rios da região.

Troppo - E por que veio a derrocada?

Graça - Em meados de 1970, diversas ações do Governo Federal, visando interligar a Região Amazônica ao restante do pais, foram sentidas por segmentos da economia local baseados na agroindústria tradicional, que mantinha o sistema administrativo e produtivo arcaico e não conseguiram acompanhar as mudanças ocorridas com o desenvolvimento. Entre as quais, as construções de estradas que provocou o rompimento do isolamento regional, ocasionando a concorrência de produtos oriundos do nordeste e de São Paulo.

Troppo - Como estão hoje as regiões estudadas no livro?

Graça - A dimensão que assumiu a agroindústria deixou graves consequências, tendo em vista o uso do fogo, condenado há mais de um século, na formação dos canaviais. Entretanto, o impacto foi sentido em menor proporção que em outras regiões, em decorrência da limitação da área agrícola, restrita apenas às terras banhada pelos rios. A prática da queimada provocou alterações químicas, ocasionando a extinção dos alimentos naturais. Logo após a derrocada dos engenhos, a população ribeirinha sentiu o impacto com a falta de trabalho e alimentação, pois faltava o pescado e a caça. A solução encontrada foi explorar o palmito, sem se preocupar com a preservação do meio ambiente, atingindo o ecossistema de forma mais intensa que o ciclo canavieiro. Vários anos se passaram até que ocorresse uma tomada de consciência da própria população ribeirinha que desenvolveu um processo de organização social, constituído em nível de planejamento ambiental e manejo integrado, voltado à plantação de açaí e sua industrialização. Com isso, já é possível encontrar por lá certa fartura de pescado, camarão e caça.

Serviço:

O livro Memória dos Engenhos do Baixo Tocantins será lançado dia 16 de novembro (quarta-feira) na boate da sede social da Assembleia Paraense (Av, Presidente Vargas, 762) a partir das 18h30.

Fonte: ORM

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