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A grana era "contadinha", satisfazendo apenas necessecidades básicas, prioritariamente: comida. Assim, não o cinema não era algo muito presente para mim. Mas o trapiche municipal, por onde as fitas chegavam outrora. Ele era anexo a feira e ao comércio local, quase restrito as suas imediações.Eu era a pessoa de confiança de minha mãe para ir à feira. Ela dizia: Não demore!! Eu tinha que andar rápido. E andava. O caminho da feira até a boca da estrada, onde eu morava, era longo demais, as casas pareciam-me bem maiores e as distâncias intransponíveis.
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Não obstante, a pressa, não raro,ao ouvir a buzina de chegada do eu apertava o passo e "esticava" até o barco para observar o movimento, ver quem chegava, ver o que chegava. E corria com a sacola da feira, antes que dona Alzira lembrasse que a comida não chegara, nem sua péquena magrela cabeluda...

Mocajuba em 1989: Vista do Trapiche Antigo
fotos do flogão.com.br/cidadedemocajuba
Ano passado, um estranheza tomou conta da minha alma quando ví apenas um espaço vazio, no lugar da feira, do trapiche. Fiquei ali, na rua, estática, olhando para o rio por sobre uma paisagem nova. Um filme passou rapidamente na minha frente como se um telão tivesse sido projetado sobre aquela paisagem inteiramente nova: cheio de vozes, sons, cores e cheiros característicos,. Com peito apertado, olhando para o chão, e revendo imagens entrecortadas idades misturadas, desci a ladeira e segui...Não lembro quem estava do meu lado, provavelmente, alguém que não me entenderia.
Logo eu ouvi a bandinha tocando e quanto mais me aproximava,mais envolvia-me com movimento do novo mercado, tudo reinventado... novo e muito entusiasmante. Movimentos, cores e sons, muitos sons. A cidade tinha mudado. A paisagem mudou. O mercado novo é um sucesso, virou point. Adorei.Mas olhar o espaço vazio do mercado sempre me trará de volta a angústia de ter perdido uma parte de minha história. Pergunto-me se o novo e o velho não poderiam conviver de outra forma que não esta, da aniquilação total.
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