Uma
das maiores vitórias do racismo é fazer o negro negar a si mesmo e aos seus
tornar-se capitão do mato.
Em tempos de redes sociais os "capitãs digitais" atendem ao chamado da "Consciência Humana" - uma estratégia para diminuir o Dia da Consciência Negra.
Lembre-se: alisar os cabelos ou andar segurando a barra da saia dos que estão em posição de poder não faz ninguém branco.
Há um termo preconceituoso que pode ser lembrado para os racistas (e que muitas vezes não entendem que o são) que se embranqueceram: “passou de branco é preto". Uma expressão dita por muitos de nossos avós.
Há um termo preconceituoso que pode ser lembrado para os racistas (e que muitas vezes não entendem que o são) que se embranqueceram: “passou de branco é preto". Uma expressão dita por muitos de nossos avós.
Você que propaga “Consciência Humana”, que é uma estratégia para diminuir a importância do Dia da “Consciência Negra”, passaria no crivo do racista que diz “passou de branco é preto”?
Olha
lá.
Veja bem!
Os defensores da tal "consciência humana", são os mesmos que
negam nossa origem afro-ameríndia com um embranquecimento compulsório que nos torna sujeitos sem história ao final. Mas nas mesmas condições de desigualdade.
Pardo, amarelo, marrom, jambo, canela... são
termos comuns em nossa linguagem cotidiana
como ferramentas de “embranquecimento”.
Capitão
do mato - morre capitão do mato.
Não
se iludam.
Nesse
sistema vocês serão apenas mais um capitão do mato digital.
Essa
é uma ferramenta aliada das forças autoritárias que crescem no país e no mundo.
Não
faça coro aquilo que te reduz.
Enxergue-se! Entenda quem você é.
Enxergue-se! Entenda quem você é.
Desde
os primeiros navios negreiros que chegaram ao Brasil, esse povo da
"Consciência Humana" já estava em cena - de chicote nas mãos,
estuprando as mulheres, subjugando os homens.
Eu
não tenho pedigree.
Minha
origem dentre os subalternizados dificulta minha identificação genealógica.
Mas
sei que minha pele relativamente branca (meio verde, a bem da verdade)
coloca-me no rol dos pardos, na classificação etnocêntrica do IBGE.
Eu
rejeito esse rótulo.
Não
sou nada, ainda me carimbam como parda?
Mas passaria por branca - se quisesse, e poderia alinhar-me as fileiras da "consciência humana".
Mas passaria por branca - se quisesse, e poderia alinhar-me as fileiras da "consciência humana".
Eu
sou cabocla-amazônida nascida na Amazônia Tocantina no meio de constelação de
quilombos – afro-ameríndia.
Alguns
mocajubenses talvez pensem que apenas o Icatú, Uxizal ou Tambaí são quilombos
em nossa região.
Ledo
engano.
De
Abaetetuba a Alcobaça (Tucuruí) para além das cidades ou dos barracões onde
emergem os elos representantes das oligarquias, dizque notáveis - em todos os
lugares, há reminiscência de quilombo.
Importante, quilombos não são espaços de
negros - são espaços de resistência aos sistemas dominantes onde estavam também
negros, mas muitos soldados em degredo (muitos de origem indígena), mulheres
fugindo da dominação masculina, estrangeiros como os judeus, fugindo de
perseguições.
Ainda
assim, é a negritude que se torna alvo das estruturas de dominação.
Mas
você que não é "negro retinto" e alimenta essa cultura fascista
travestida de humanismo da "Consciência Humana" pode usar esse dia
para buscar sua ancestralidade. Ou para desenvolver a empatia por quem ficou mais de 300 anos sofrendo o jugo da escravização. E com os quais não conseguimos saldar tal dívida.
Outros precisam apenas olhar bem para o
espelho e se perguntar porque raspou a cabeça e nas meninas qual o sentido do
uso dos métodos alisantes e da chapinha
em sua cômoda e indagar sobre quem realmente você é.
"Máquinas
zero" e chapinhas não mudam a história.
Mas
você que enfileira-se na "Consciência Humana" pode buscar um entendimento melhor de quem você é e de onde veio.
Somos um país racista!
Mocajuba é uma cidade muito racista.
Busque
o espelho, os livros e a história oral.
Objetivamente, é assustador como as pessoas reproduzem estapafúrdia idéia de consciência humana como se estivessem contribuindo para a melhoria nas relações entre brancos e negros - e não raro, são pessoas que estão de boa fé e não se percebem usadas para a reprodução de um instrumento de diminuição da questão negra no país.
É um processo assustador!
(Por
Carmen Américo, cabocla amazônida)
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