terça-feira, 1 de maio de 2018

Dia das Trabalhadoras e dos Trabalhadores!




Neste dia de refletir sobre o trabalho, para as mulheres é data de constatações negativas e de arregaçar as mangas para avançar nas conquistas.
Se os direitos de todos estão sob ameaça e as perdas são inevitáveis – para as mulheres elas são conjunturais e estruturais. Ou seja, perdemos sempre duas vezes, pois a sociedade já está em débito conosco.
As mulheres não usufruem das mesmas condições que os homens tanto no rendimento de seu trabalho como na formalização e na disponibilidade de horas para trabalhar.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD C) é retrato triste da necessidade do feminismo como instrumento de luta por direitos iguais. Que ainda há muito a conquistar na direção da igualdade de gênero no mercado de trabalho. Os números são apresentados sem muita problematização. Mas é sempre importante fazê-lo.
Em 2017, dos 40,2 milhões de trabalhadoras, 24,3% haviam completado o ensino superior. Já os homens ocupados a proporção era de 14,6%. Ainda assim, é desalentador constatar que as mulheres que trabalham recebem rendimentos 24,4% menores que os dos homens em média.
Nesta fração de segmento uma realidade cínica. As mulheres são praticamente a metade dos empregadores – mesmo mais bem formadas e qualificadas – 6% para 3,5¨%. Contudo, tem percentual mais que duas vezes quando se trata do famigerado trabalhador familiar auxiliar não remunerado. As famosas tarefas domésticas. Os homens são 1,5% enquanto as mulheres são 3,6%. Dito de outra forma, entre homens e mulheres bem formados, as mulheres trabalham duas vezes mais em casa, enquanto os homens e demais membros da família coçam... o pé.
Em 2017, as mulheres destinaram 73% mais de tempo (18 horas semanais) a cuidados de pessoas ou afazeres domésticos. Os homens dedicaram 10,5 horas.

Essa ainda é uma das características estruturais que pesam contra a emancipação feminina e ocupação de melhores posições no mercado de trabalho, na economia, na política. Enquanto os homens estão buscando desenvolver suas habilidades e potencialidades para toda uma diversidade de atividades – as mulheres são obrigadas pela cultura machista e patriarcal a dedicar a organização da casa ou ao almoço da família ou do “mô”, dos filhos e filhas que o pai não se compromete com os cuidados, ou ainda com os filhos e filhas que o pai abandonou.

Diante disso, muitas mulheres procuram inclusive ocupações em tempo parcial, comprometendo sua independência financeira e seu pleno desenvolvimento. Fortalecendo a subjugação. A pesquisa também traz dados desalentadores disso. Quantas professoras e operadoras de telemarqueting tem metade de seu tempo ocupado pelo trabalho familiar não remunerado e sub valorizado? É preciso problematizar os dados mais que mostrar seus índices com a frieza descontextualizada da estatística.
Então, entramos na estatística como a maioria dos trabalhadores subocupados pessoas que trabalham menos de 40 horas semanais, mas gostariam de trabalhar mais. São cerca de 54% dos 6,46 milhões de trabalhadores subocupados.
O que os dados não dizem, que é que isso reflete uma dinâmica cultural que subordina as mulheres desde a introdução da primeira bonequinha no seu quadro de brinquedos nos primeiros segundos de vida.
Que culturalmente as mulheres são criadas, formadas e moldadas para ocupar posições de trabalho que valem menos no mercado de trabalho.
Que são expostas a fadiga da dupla ou tripla jornada trabalhando, estudando, criando filhos e filhas;
Que são expostas a forte carga mental pela gestão do ambiente familiar e doméstico como se sua obrigação fosse;
Que são treinadas para uma trajetória de cuidado com a vida, com a família, de corpos e falas dóceis;
O trabalho mal remunerado não é menos injusto do os esquemas sutis de dominação e desconstrução das mulheres no ambiente corporativo.
O dia das trabalhadoras e dos trabalhadores é momento de lembrar que já estamos muito tempo sob esse jugo. Que é hora de lutar por nenhum direito a menos, e nenhum direito a menos que os deles. Igualdade!


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"Veja bem, meu amigo, a consciência é um orgão vital e não um acessório, como as amígdalas e as adenóides."(Martin Amis)

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