domingo, 16 de junho de 2013

E se...

[Estou atualizando embaixo para quem está acompanhando]


Boa Noite Gente,
Bem [...]
Como vocês já viram por aqui, temos um novo colunista, meu sobrinho, meio irmão, meio filho Salmo.
Agora nesse momento gostaria de agradecer a todos os amigos, amigas, colegas e conterrâneos pelo apoio via telefone, email, e pelas incontáveis mensagens através da caixa de mensagens do Facebook, o chamado bate-papo ou mensagens inbox.
Especialmente, aqueles que acompanharam e se prontificaram a ajudar desde o momento que minha mãe Alzira Américo foi internada em Mocajuba (PA)  que foi uma verdadeira saga:
Desde o momento de desespero pela descoberta de ausência de cobertura médica privada,
Até a tentativa de entendimento de do modo de funcionamento dos mecanismos de encaminhamentos públicos;
Passando pelo momento desesperador  de busca por atendimento na capital;
[Esse foi o pior e também o momento que vocês todos que sei também passam por aqui pelo blog ]....
Muito Obrigada !!
Obrigada pelas ligações longas e pelas tentativas de conforto e reconforto. Obrigada pelas visitas a calçada e pelos SMS.
Muito Obrigada !!
Vocês não podem imaginar.
Não podemos presumir.
Acho que nem no maior pesadelo, um ser qualquer pode sentir o que senti esses dias.
Agora, são 3:00 da manhã.
Estou em casa, e minha mãe felizmente está internada no Hospital Offir Loyola.
Grave, mas estável, como dizem os boletins médicos jornalísticos.
Não corrigirei o texto abaixo. 
Pois é bom escrever. mas reler e corrigir é muito doloroso.
Não consigo dormir, minha cabeça dói muito então achei que escrever seria uma boa coisa.






Bem [...] 


Gente, quando vi minha mãe dentro do carro dirigido pelo "Elvis",  e  acompanhada pelo  meu sobrinho Salmo (10 anos) que segurava  sua mão.
Eu vi que nada tem valido a pena.
Uma imagem aterrorizante. 
Chorando, ensanguentada com um pedaço de tecido na mão, também cheio de sangue.




Segui com mãe quase toda ensanguentada depois de quase quatro horas de uma viagem onde sua "única companhia" e conforto - era Salmo.





Nesse ponto, queria pedir desculpas por não ter atendido o telefone e por não ter falado coisa com coisa. Minha irmã passou a tender o telefone e falar com algumas pessoas – as quais agradeço e peço desculpas ao mesmo tempo.





Agradeço a todos que tentaram intervir no momento em que chegamos ao PRONTO SOCORRO DO GUAMÁ – com todo respeito aos profissionais e pessoas ali sob tratamento: eu vi a imagem do inferno.



Imaginem: minha mãe toda ensanguentada, chorando de dor e mesmo com a solidariedade de alguns funcionários que deram prioridade ao caso – ficamos, eu meu sobrinho  e minha irmã Merize Américo , que  mesmo vivendo em Breves (PA) chegou em Belém (PA) antes de minha mãe chegar a capital: vivemos algumas horas de terror.


Terror.
E saímos de lá com minha mãe tendo apenas tomado DIPIRONA. NINGUÉM tocou no ferimento exposto que ela carregava.



E carregamos ela, para nosso carro novamente.
Nesse momento, Elvis que dirigia o carro, já tinha retornado.
Eu estava sem locomoção.
Mas aproveitando o horário do almoço meu marido veio nos socorrer.




Antes de chegar no Offfir Loyola, já com apoio do meu marido Zeca Paes, o carro quebrou no meio de um sol  uns trocentos e cinquenta graus.
Paramos no meio da pista para parar o primeiro taxi.
Meu marido ficou para trás.



Eu Merize e Salmo seguimos para outro hospital.
Minha mãe não apenas chorava de dor, ela também reclamava de fome, pois já tinha passado a hora da refeição a tempos.
Ela saiu de Mocajuba umas 10 horas, acho.
Depois de ficarmos monitorando o embarque  dela, daqui de Belém, pelo Maurício em Mocajuba.



[Aos amigos que ligaram nesse momento, muito obrigada. Aos que foram atendidos pelo Salmo – muito obrigada pelo recado deixado]



Chegamos no Offir Loyola com um encaminhamento para outro Hospital. O encaminhamento recebido em Mocajuba era para o Barros Barreto, mas o lugar correto devia ser o OFfir Loyola.





Levamos minha mãe para dentro.
Mas não tínhamos certeza de que ela iria ficar lá.
[Desespero]
Ela chorava de dor, de fome, e de medo. 
Não parava de lembrar de que cuidássemos do filhinho dela. O Salmo. 
Ele mesmo encarregava-se de responder que ela não devia se preocupar. 





Sentamos minha mãe em uma cadeira qualquer. 
Uma espécie de recepção do Hospital.
E o desespero tomava conta.
Tudo passa na sua cabeça.
A vida como um filme. 
Um filme com final em aberto.





Antes de minha mãe chegar em Belém (PA) eu e minha irmã Merize mobilizávamos todos os amigos, conhecidos parentes e aderentes. 
Não era possível fazer um outro plano de saúde. 
Os planos não aceitavam.
E se aceitassem teríamos a carência.





Uma delas, é a filha de minha vizinha de prédio, amiga de Mocajuba e que vive em Belém (PA) DEUZÉLIA.
Nem em mil anos vamos poder agradecer.
Ela deixou os filhos em casa e chegou apressada .
Minha irmã Merize virava os corredores em busca da liberação de atendimento. 
Já tínhamos sido dispensados de um lugar. 
E disse: “vai cobrar comida”. "Arroz com galinha", especificamente. 
Ela tinha estado lá mais cedo.





E nesse momento encontrei a Deuzélia, apressada e ofegante chegando desafiando a calçada irregular e movimento de pedestres. 
Eu  tinha falado com ela mais cedo. Quando a vi, uma mistura de sentimentos se fez presente.
Ela apreensiva e simpática ao mesmo tempo indagou, algo como “como tinha sido no Pronto Socorro”. Eu disse algo como “ quase expulsaram a gente de lá e não fizeram nada”. 
Ela disse algo como “ mais é muita desumanidade....


O resto da conversa não lembro bem. Apontei onde a Merize estava e segui em busca da comida com meu sobrinho.
Foram minutos.
Que pareceram horas.
Não tinha comida perto. Ainda olhei para trás e Deuzélia seguia apressada, com o pisar daqueles que buscam o bem.
O sol estava muito alto. Eu não tinha comido direito e nem dormido na noite anterior. Eu sentia o corpo e alma tremerem.
O barulho dos carros em compensação estavam mudos. Compramos a comida e voltamos. Minha mãe não estava no lugar que deixamos. Ela tinha seguido com Merize e Deuzélia por um lugar de emergências ...





Ficamos com comida na mão e uma sensação de vazio. Onde minha mãe entrou, nem eu, nem a comida, muito menos meu sobrinho poderia entrar. Meu sobrinho disse: titia, posso comer. Sentamos em um canteiro na calçada e lá ficamos.






Uns minutos se passaram.
Eu não sabia mais nada.
Estava do lado de fora da grade e havia um segurança na porta.





Eu não atendia as ligações, me desculpem, o celular era a forma de comunicação com minha irmã.
Ela ligou. Antes de tocar atendi.
Ela resmungou algo como “está acontecendo algo muito ruim aqui”, e desligou o telefone. Um manto negro caiu sobre a rua. Ninguém poderia entrar. E em suplicas pedia ao guarda que ele deixasse-me me  entrar que minha mãe morria.
Ele me olhou penalizado e só disse: mas o menino não pode entrar. Eu peguei a mão dele e do meu sobrinho e disse algo como “segure-o para mim”.
“O “algo ruim” a que minha mãe se referia era um choro mais forte e mais doído.  Minha mãe na cadeira de rodas no meio de um sala estreita e muito comprida e lotada por outras pessoas com enfermidades diversas.  Ninguém poderia fica lá, então Deuzélia saiu da sala e lá ficamos.






Percebi que a fome, somada ao remédio que causava sonolência fazia quase adormecer.  Mas a cadeira não permitia. Encostei meu corpo fazenda aumentar a área de encosto da cadeira e ela foi acalmando.
Então, outro desespero tomava conta de mim. Coloquei a mão sobre o peito para monitorar a respiração dela. Minha irmã, sentada em uma cadeira monitorava-nos. E ela foi acalmando, parou de chorar. E os remédios fizeram-na parar de pedir comida.  Depois de algumas horas, ela foi transferida da cadeira de rodas para uma cadeira maior, aquelas cadeiras grandes que permitem deitar.
Não tínhamos levado nada. 
Nem lençóis, nem toalhas.  
Nada.
O hospital também não tinha.
Minha irmã foi tomar um banho e trocar de roupas.
Depois eu fui buscar lençóis toalhas, escovas e etc.. E resgatar meu sobrinho Salmo que a essa altura estava protegido na casa da Deuzélia – ela o levou para brincar com os filhos e tomar banho enquanto ficávamos com minha mãe nas horas mais agonizantes de nossas vidas.




No trajeto falamos de minutos e minutos.
Chuva transito. Dor.  
Saí correndo de volta. Na saída de volta, peguei uma carona com o filho da prof. Sádia, que é meu vizinho para não perder tempo à espera do taxi, porque a cadeira que minha mãe estava gelava-a.





Então, minha irmã saiu para tomar banho, trocar de roupa e etc. tal.
Nesse período sentei em uma cadeira a frente da cadeira /poltronada minha mãe. Ela havia tomado uns comprimidos fortes para auxiliar em um procedimento que faria mais tarde. Parecia dormir. De repente, ela sussurrou; - Carmen, Carmen e começou a vomitar.  
Eu gritei pelo enfermeiro que cuidava dela e um procedimento terrível se iniciara.
Eu tremia.
Na sala cheia.
 Todos silenciaram.
O enfermeiro cuidava dela e eu a frente sentia que nada tinha valido a pena.
Nada.
Então...
Uma moça linda, sentada em posição de yoga o meio da cama duas camas ao lado de minha mãe, e de frente para mim.
 De cabeça raspada começou a olhar fixo para mim e cantarolar um hino.
Acho que um hino evangélico.
Eu não conseguia ouvir bem o dia dizia o hino.
Mas conseguia sentir o olhar dela sobre mim.
O a letra do hino eu não conseguia entender bem, mas ouvia a melodia [...]
Um som divino...





Ela cantou até terminar o procedimento.
Nestes minutos.
Uns cinco ou dez.
Ninguém falou nada.
No máximo, lembro-me dos gemidos de minha mãe, do cheiro podre e outros gemidos.
[...] E do cantarolar da moça.



Aos poucos eu fui parando de tremer.
E não chorei mais.
Em seguida arrumei minha mãe na cama e ela dormiu.
Ficamos juntas até meia-noite.

À uma da manhã, fui para casa levar comida para meu marido e meu sobrinho.
Não consigo dormir bem.
Achei que escrever um pouco ia me ajudar.
E lhes digo:  nada tem sentido nenhum.
Não há significado válido para nenhuma das coisas que vive até agora.


***
Pela manhã segui novamente para o Hospital para render minha irmã que estava lá.
Quando cheguei lá, minha mãe estava em um procedimento ambulatorial, finalmente estavam cuidando da enorme ferida que ela traz no rosto. Ela chegou com uma hemorragia então estavam tentando estancar o sangue.
Como apenas uma pessoa pode ficar do lado de dentro.
Eu fiquei novamente na calçada, sentada no canteiro.
Não sei quanto tempo se passou.
Fiquei lá.
Podia sentir as dores.
Um vendedor de cocos bateu no meu ombro e perguntou se eu não queria tomar a água.
Ele não estava me oferecendo uma mercadoria, ele estava com a água na mão em uma pequena sacola, e disse: “- tome”.  Você vai melhorar.



Depois de um certo tempo. Minha irmã saiu e disse que minha mãe ia sair da cadeira e ia para uma cama em um quarto. Ela estava acompanhada de uma amiga dela que trabalha na casa, Gisele.
Amiga muito antiga. Acho que estudaram juntas, ela, Deuzélia e Merize. Se lembro bem, é psicóloga. Ele disse: se precisar de força, eu estou aqui. Eu estava tentando entrar...



Bem, durante o dia de hoje, [ontem] minha mãe recebeu a visita das netas Mauricélia e Marciléia. Pronto. Ficou bem feliz. O dia passou normal, salvo os pequenos momentos de hemoragia. Consegui que a minha amiga Socorro Moto-Taxi fosse comprar um chip para não deixar meu pai isolado em casa, e meu pai também falou por bom tempo com ela.




Então comecei a ligar para todo mundo.
Afinal, nessas horas vale mesmo o carinho dos seus.
Ela fala com todos com a mesma firmeza e astral de sempre.
A tarde ela escondeu o rosto no lençol para chorar baixinho.




Logo minha sobrinha Mauricélia chegou e foi uma festa.
A noite, o filhão mais velho dela chegou, Maurício.  Ela teve malária quando ficou grávida dele.
E se recusou a tratar a malária com medo de abortar. - Tremia como vara verde!! Me contava ela a tardinha. A nora veio junto.




Ela já tinha me pedido  para ligar várias vezes durante a tarde para saber se ele chegara ou não.
Pensei que era uma visita.
Mas ele se ofereceu para dormir e “render-me”, já que a Merize, tinha ficado em claro na noite anterior. Eu tínhamos combinado que nessa noite ela iria para casa dormir.
Ensinei a ele sobre gases, luvas e como fazer assepsia e onde pegar os materiais com a enfermaria.
Bem [...]
Meu marido estava à porta com meu sobrinho e eu tinha que cuidar deles também.






Já está amanhecendo graças a Deus.
Espero que ela tenha dormido bem.

Atualizando:

Hoje, 17/06/2013, ás 6:11.
As coisas ainda estão terríveis.
Mais que terríveis.
Porém[...]
Depois de muita confusão e até brigas entre nós.
A vida parece retomar o curso que não deveria ter perdido a muito tempo.








Hoje [ontem, já amanheceu] minha irmã Merize dormiu com mamãe.
E mais uma prima dela, tia Guilhermina de Cametá com as filhas também estão lá. 
Até meia noite, um enfermeiro contratado pelo meu irmão Maurício para ajudar nos curativos cuidava dela. 
As dores são terríveis.
E mais terrível é a situação de humilhação que a doença coloca.
A ela e aos seus.







Meu sobrinho Maurício Américo, solidariamente, veio buscar o Salmo para ficar com ela.
Gente, as coisas estão ruins demais porque minha mãe teve "alta" do Hospital Offir Loyola. Mas estão melhores porque todos estamos juntos para cuidar dela.







Meu irmão Maurício convenceu-se de que a casa dele é maior que a minha e levou minha mãe para sua casa nova.
Na realidade foi muito doloroso para mim. 
Quando cheguei no Hospital de manhã, uma moça que estava dividindo o quarto conosco chamou para dizer que ela chorava e dizia: -" Quero ficar com minha filha". Enquanto meu irmão ligava para mim para acertarmos onde ela ficaria.
Moro no terceiro andar de um prédio sem elevador.
Já imaginaram a situação?






Mesmo a contragosto,
Minha mãe terminou  ficando um pouco feliz. 
Ela não conhecia a casa nova dele ainda.
E na casa dele cabe ela e os visitantes.
O que também é importante nesse momento.
[...]




[...]
Hoje é meu dia. 
Minha irmã Merize vai para Breves (PA) e eu irei ficar com a mamãe lá.
Netos E uma  irmã também irão vê-la.
Antes de ir embora, minha irmã Merize e Eu  vamos tentar encaminhar o retorno dela para o Hospital. 





































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"Veja bem, meu amigo, a consciência é um orgão vital e não um acessório, como as amígdalas e as adenóides."(Martin Amis)

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