sexta-feira, 3 de junho de 2011

Novidades do Coração


Sabe aquele dia que o coração amanhece quentinho e feliz ?
Pois é.
O meu coração amanheceu bem quentinho. E brilha como o sol do equador que vejo pela janela.
Amigos.
Amigos aquecem o coração e fazem a alma (re) florir.
Existem como presentes divinos, presentes de Deus.
Nos fazem questionar a máxima de que prova da existência de divina é a natureza e suas coisas cheias de detalhes que o homem não consegue decifrar.
Para mim, a prova da existência divina são as amizades, os bons encontros que a vida cria.
A magia dos encontros bons entre almas, por ai procurando flores, dá a vida um outro sentido.

***
Incrível que existem alguns amigos que existem para nos fazer rir.
Ontem o telefone tocou estranhamente. Do outro lado, aquela voz familiar, já um pouco distante, mas que logo invadiu a alma e recolocou-se no lugar que lhe cabe, o coração.
O amigo distante que teima em voltar. Um amigo.
Amigo que existe simplesmente para deixar florir pelo corpo a alegria e crescer na alma a segurança de que a vida nos presenteou.

*
Amigo daqueles que a gente encontra de vez em quando com o único e fundamental objetivo de ficar feliz, deixá-lo feliz, rir...
Risadas.

*
Há, suas risadas.
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Conto para vocês.
Pesquisei e fiz mestrado tendo como referência empírica o município de São Félix do Xingu, há 1147 quilômetros da capital. Estudava a trajetória de pecuarista e a cadeia da pecuária bovina na Amazônia.


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Eram idos de 2004 a 2006, um período em que, por lá, a vida cotidiana assemelhava a idéia de faroreste americano, a mídia passava isso em Belém. Muitas mortes, conflitos e problemas ambientais faziam da cidade um lugar muito singular. E da expectativa em relação a ela, uma temeridade. Ouvi muitas vezes que eu era louca. Eu ia ia animada. Feliz. Procurando repostas. 

Quando cheguei à sede municipal,  o grande números de homens da polícia federal e  do  exército davam a cidade um   clima de filme americano. Caçavam os supostos assassinos de Dorothy Stang. Faziam blitz, montavam barreiras, prendiam pessoas aos montes...

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E lá estava eu. Tudo era novo e estranho para mim, a começar pela paisagem, com relevo relativamente acidentado, muito diferente de nossa região do baixo-tocantins.  Paisagem  monótona pela grande extensão e repetição de pastagens. Na estrada de piçarra, vez ou outra se passava por uma área de mata ou capoeira à margem da PA-279, que começa em Xinguara.

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Eu, uma pequena equipe, mas não raro, apenas o motorista fazia-me companhia e dava apoio.
Em São Félix do Xingu toda a singularidade paraense é substituída por outra, feita por um povo lindo, migrante, que fala diferente, come diferente, veste-se diferente... Aprendi a gostar de música sertaneja por lá.

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Goianos e tocantinenses fazem da cidade uma transposição do modo de vida do centro-oeste brasileiro.
Eu estava lá para fazer pesquisa com pecuaristas em um tempo que São Félix do Xingu era notícia nacional e internacional pelos altos índices de desmatamento derivado da conversão da floresta em pastagens para criação de gado bovino. Ou seja, estava mexendo em um vespeiro, dizem alguns.
Minha missão era entender como eles organizam a vida e a produção. Mas isso não era fácil. Eu era paraense.
De fora.
Estranha. Indagava sobre gado e desmatamento e nunca sabia o que ia ouvir. Porque para criar gado é preciso desmatar. Pelo menos por aqui pelo Pará.
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Os fazendeiros, colonos, pecuaristas eram meu objeto de estudo e eu para eles aquela pesquisadora da capital que poderia denunciá-los. Quem ia saber. Todo fazendeiro no município, quase que invariavelmente tem algum problema ambiental. Mas eu precisava entrar nas fazendas e nas vidas deles. Um dos maiores desafios que já vivi. E todos falavam que eu ficaria lá pelo Rio Xingu, com uma grande pedra no pescoço.
Rio Xingu, lindo, mas tinha muito piun ás cinco da tarde.
A tensão era permanente.
 O medo vivia, assim, levemente a espreita.
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Lá, desembrulhei  esse amigo, que era juiz da cidade.
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Vivia também sozinho por lá.
Também tensionado.
Também determinado a fazer seu trabalho.

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Nas horas que o cansaço batia, a gente ria.
Nas horas que a saudade apertava, a cantava.
Na hora que o tédio chegava , a gente fotografava.
Olhava o tempo. Vigiava a vida.

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Muitas risadas.
Muita gente foi contagiadas pelo laço fraterno, e agregávamos.
Fizemos muitos amigos comuns.
Amor irradiado coletivamente.


*
Hoje, ele não vive lá, a 1.147 quilômetros.
O mestrado acabou e decide estudar outras áreas e questões.
Meu amigo transferiu-se.

É o juiz em outro município, próximo a Belém.
Eu deixei de estudar áreas tão tensas.
Por hora.
Hoje a gente se encontra para rir.


*
Rir.
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Ria.
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BOM DIA!!!



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"Veja bem, meu amigo, a consciência é um orgão vital e não um acessório, como as amígdalas e as adenóides."(Martin Amis)

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