quarta-feira, 24 de maio de 2017

Pau Darco: Conflito ou chacina?

foto: whatsap
internet

Na guerra, sempre todos perdem.

A escalada de violência no campo do Pará avoluma-se. Dez pessoas são mortas pela polícia militar do Pará, no dia em que o governo federal  reprime violentamente as manifestações em Brasília (DF) autoriza o uso das Forças Armadas para garantia da lei e da ordem (GLO) pelo período de 24 a 31 de maio no Distrito Federal.



No Pará, há uma escalada de violência alarmante. Os conflitos no campo recrudescem no contexto em que o latifúndio e sua força para destruir a floresta encontram-se fortalecido diante das instituições federais com rebatimentos nas representações locais que operam a política agrária na Amazônia. 



O episódio ocorreu na Fazenda Santa Lúcia, no município de Pau’ Darco. Essa fazenda é parte de um complexo de fazendas que integra o império do falecido “Norato Barbicha”- grileiro notável da Amazônia com seus milhares de hectares grilados como as Fazendas Cipó, Pantanal, Santa Lúcia e muitas herdadas pela esposa.




A Liga dos Camponeses Pobres informa que A Fazenda Cipó, já esteve tomada pela LCP do Pará e Tocantins, contudo, foi alvo de reintegração. Contudo a disputa continua pela posse. Esclarece que depois de muitas reuniões, fechamentos de BR´s, audiências públicas e etc., comprovou-se que, dos 800 alqueires, somente 200 eram documentados. Os outros 600 alqueires são terras do Estado ocupadas de forma ilegal. Griladas.


Trata-se do segundo maior conflito com mortos do Estado, perdendo apenas para o "Massacre de Eldorado de Carajás", em 17 de abril de 1996, quando 19 trabalhadores sem-terras morreram em confronto com a polícia. Desta vez, não há filmagens, não existem testemunhos audiovisuais - e narrativas diferentes são postas a público.


O conflito não é recente. Aproximadamente 150 famílias estavam acampadas na área desde 18 de maio de 2015 em luta sistemática para provar que aquela terra, tal como outras do Complexo de Norato Barbicha, está apta a reforma agrária. 


No segundo semestre do ano passado reivindicaram formalmente a Fazenda diante do Incra para fins de reforma agrária.


Todos perderam. 

A Fetraf perdeu o comando sobre os militantes que não seguiram a orientação para não uso de armas. Muitos de seus militantes desistiram da justiça e do diálogo - deduz-se da nota publicada pela Federação.  O que os levou a isso? Ontem, divulgou nota anunciando que não mais pautará a fazenda diante da escalada de sangue que a região vivencia. 



Todos perderam. 
O governo não seguiu a orientação de, nestes casos, constantes na Cartilha da Ouvidoria Agrária Nacional e nas diretrizes do Tribunal de Justiça fazer uso de corpo tático especial. Perdeu qualquer possibilidade de defender-se de uso desproporcional de força. A morte nunca deveria ser um caminho. Mas sempre foi por aqui, desde os tempos cabralinos.  Notemos que não há policiais feridos ou mortos. 


Todos perderam. 
Os acampados que abriram mão do diálogo e, com uma postura que beira a infantilidade, resistiram. E morreram. 
Nove homens e uma mulher.
Todos perderam. Nas guerras, não raro, mulheres são poupadas.
Mas Jane, a única mulher dentre os mortos, era líder da Associação de Camponeses da área. 
Todos perderam. Tudo.




A Liga dos Camponeses Pobres assevera que trata-se de crime de Estado com características de revanche por conta do assassinato de um segurança na região, e policiais compõe esse campo da segurança privada como forma complementar de renda. Aliga também alega que os ferimentos não são compatíveis com o a versão de "tiroteio", e sim com um fuzilamento. 

armas apresentadas pela polícia

reprodução-internet



O governo está em busca da melhor forma de explicar o fato à opinião pública e conduz investigação que será acompanhada de perto pela justiça federal também. Alega que os policias estavam em uma ação legal para cumprir mandados de prisão. Contudo, o número de mortos é maior que o número de mandados. De fato, talvez nunca saberemos de fato o que ocorreu, parte das possibilidades de explicação foram eliminadas com a retirada dos corpo dos locais das mortes e transferência para Redenção (PA). É apenas deste ponto em diante que o Instituto Médico Legal fará seu trabalho, mas sabemos perdeu-se parte de sua matéria-prima de análise. 


A sociedade cada vez mais obscurece sua capacidade de entender as estruturas que movem o latifúndio e das mazelas que ele produz: sem terra, sem esperança... mas coragem em demasia porque levantar uma luta armada com dez rifles contra todo o aparelho de Estado, é supor-se com poderes especiais. 


Na guerra todos perdem. Na guerra amazônica pela terra,  perdem sempre mais os agentes subalternizados por cinco séculos de latifúndio e privilegiamento da elite associada ao Estado. 




Notas:

Governo: 






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"Veja bem, meu amigo, a consciência é um orgão vital e não um acessório, como as amígdalas e as adenóides."(Martin Amis)

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