Neste dia de refletir sobre o trabalho, para as mulheres é data de constatações negativas e de arregaçar as
mangas para avançar nas conquistas.
Se os
direitos de todos estão sob ameaça e as perdas são inevitáveis – para as mulheres
elas são conjunturais e estruturais. Ou seja, perdemos sempre duas vezes, pois
a sociedade já está em débito conosco.
As
mulheres não usufruem das mesmas condições que os homens tanto no rendimento de
seu trabalho como na formalização e na disponibilidade de horas para trabalhar.
A Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD C) é retrato triste da necessidade
do feminismo como instrumento de luta por direitos iguais. Que ainda há muito a
conquistar na direção da igualdade de gênero no mercado de trabalho. Os números
são apresentados sem muita problematização. Mas é sempre importante fazê-lo.
Em
2017, dos 40,2 milhões de trabalhadoras, 24,3% haviam completado o ensino
superior. Já os homens ocupados a proporção era de 14,6%. Ainda assim, é
desalentador constatar que as mulheres que trabalham recebem rendimentos 24,4%
menores que os dos homens em média.
Nesta
fração de segmento uma realidade cínica. As mulheres são praticamente a metade
dos empregadores – mesmo mais bem formadas e qualificadas – 6% para 3,5¨%.
Contudo, tem percentual mais que duas vezes quando se trata do famigerado
trabalhador familiar auxiliar não remunerado. As famosas tarefas domésticas. Os
homens são 1,5% enquanto as mulheres são 3,6%. Dito de outra forma, entre
homens e mulheres bem formados, as mulheres trabalham duas vezes mais em casa,
enquanto os homens e demais membros da família coçam... o pé.
Em
2017, as mulheres destinaram 73% mais de tempo (18 horas semanais) a cuidados
de pessoas ou afazeres domésticos. Os homens dedicaram 10,5 horas.
Essa ainda é uma das características
estruturais que pesam contra a emancipação feminina e ocupação de melhores posições
no mercado de trabalho, na economia, na política. Enquanto os homens estão buscando
desenvolver suas habilidades e potencialidades para toda uma diversidade de
atividades – as mulheres são obrigadas pela cultura machista e patriarcal a dedicar
a organização da casa ou ao almoço da família ou do “mô”, dos filhos e filhas que
o pai não se compromete com os cuidados, ou ainda com os filhos e filhas que o
pai abandonou.
Diante disso, muitas mulheres procuram
inclusive ocupações em tempo parcial, comprometendo sua independência
financeira e seu pleno desenvolvimento. Fortalecendo a subjugação. A pesquisa também
traz dados desalentadores disso. Quantas professoras e operadoras de
telemarqueting tem metade de seu tempo ocupado pelo trabalho familiar não
remunerado e sub valorizado? É preciso problematizar os dados mais que mostrar
seus índices com a frieza descontextualizada da estatística.
Então,
entramos na estatística como a maioria dos trabalhadores subocupados pessoas
que trabalham menos de 40 horas semanais, mas gostariam de trabalhar mais. São
cerca de 54% dos 6,46 milhões de trabalhadores subocupados.
O que os
dados não dizem, que é que isso reflete uma dinâmica cultural que subordina as
mulheres desde a introdução da primeira bonequinha no seu quadro de brinquedos
nos primeiros segundos de vida.
Que culturalmente
as mulheres são criadas, formadas e moldadas para ocupar posições de trabalho
que valem menos no mercado de trabalho.
Que são
expostas a fadiga da dupla ou tripla jornada trabalhando, estudando, criando
filhos e filhas;
Que são
expostas a forte carga mental pela gestão do ambiente familiar e doméstico como
se sua obrigação fosse;
Que são
treinadas para uma trajetória de cuidado com a vida, com a família, de corpos e
falas dóceis;
O
trabalho mal remunerado não é menos injusto do os esquemas sutis de dominação e
desconstrução das mulheres no ambiente corporativo.
O dia
das trabalhadoras e dos trabalhadores é momento de lembrar que já estamos muito
tempo sob esse jugo. Que é hora de lutar por nenhum direito a menos, e nenhum
direito a menos que os deles. Igualdade!